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A Prefeitura de Manaus realizou o I Simpósio Municipal para o Enfrentamento da Mortalidade Materna, na manhã desta sexta-feira, 27/5, com intuito de promover uma reflexão sobre o cenário atual, capacitar os profissionais de saúde e desenvolver novas estratégias que contribuam para a redução desses índices. O evento foi promovido pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), no auditório da maternidade Doutor Moura Tapajós, na zona Oeste.
A subsecretária de Gestão da Saúde da Semsa, Aldeniza Araújo de Souza, informou que o evento inédito dá visibilidade às discussões sobre o tema, e possibilita o compartilhamento de conhecimento e vivências entre diversos profissionais. Neste sábado, 28/5, são celebrados o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna.
“A Atenção Primária é a porta de entrada para o sistema de saúde, que realiza o pré-natal, um conjunto de medidas fundamental para que as mulheres tenham gravidez e parto sadios. A secretaria também adota outras ferramentas para promover a saúde dessas mulheres, como telemonitoramento, capacitação das equipes, educação em saúde e ampliação de outros serviços. Nós precisamos acreditar que sempre é possível melhorar, e por isso a necessidade de fazer essa reflexão”, disse.
Conduzindo uma das palestras do simpósio, a chefe do Núcleo de Investigação de Óbito da Semsa, Aline Nery de Albuquerque, explicou que a mortalidade materna é a morte evitável de uma mulher durante a gravidez ou até 42 dias após o término da gestação. As causas incluem questões relacionadas à vulnerabilidade social e às políticas públicas de saúde.
“A gravidez é um processo natural, mas ocasiona inúmeras mudanças físicas e psicológicas na vida da mulher, e por isso sempre é classificada de risco, seja baixo, médio ou alto. Por isso, as unidades de saúde estão sempre fortalecendo a atenção especial que esse grupo demanda, para identificar qual o risco dessa gestação, e disponibilizar o acompanhamento adequado às usuárias”, afirmou.
O I Simpósio Municipal para o Enfrentamento da Mortalidade Materna também teve como palestrantes, a subsecretária de Políticas para Mulheres e Direitos Humanos da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), Graça Prola, e a professora doutora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ione Rodrigues Brum.
O evento contou ainda com a participação da diretora do Departamento de Vigilância Ambiental e Epidemiológica da Semsa, Marinélia Ferreira, diretora do Departamento de Atenção Primária da Semsa, Sonja Farias, chefe do Núcleo de Saúde da Mulher da Semsa, Gerda Costa, diretora da Maternidade Moura Tapajós, Núbia Cruz, e a diretora da Maternidade Nazira Daou, Andrea Gonçalves.
“Acredito que nós estamos dando passos largos ao realizar, de forma interinstitucional, o primeiro simpósio para discutir óbitos maternos, um assunto que antes não tinha nenhuma visibilidade, a não ser dentro das maternidades. Penso que, hoje, a gente abre um novo panorama nesta política de defesa dos direitos da mulher”, destacou Graça Prola.
Cenário local
O Brasil pactuou, em 2018, o compromisso com a Organização Mundial de Saúde (OMS) de reduzir a Razão de Mortalidade Materna (RMM), até 2030, para 30 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos.
A chefe do Núcleo de Investigação de Óbito da Semsa, Aline Nery de Albuquerque, disse que nos últimos seis anos, os índices registrados no município de Manaus se mantiveram acima do que foi pactuado, e teve o cenário agravado durante a pandemia de Covid-19. Os dados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), ambos do Ministério da Saúde.
Índices
Em 2016, a Razão de Mortalidade Maternidade em Manaus foi de 68,17 óbitos maternos para cada 100 mil nascidos vivos (26 mortes), número que reduziu para 31,17 no ano seguinte (12 mortes). Já em 2018, a RMM chegou a 95,88 (37 mortes), e caiu para 71,34 em 2019 (24 mortes).
Aline lembrou que a pandemia de Covid-19 aumentou, consideravelmente, o número de óbitos maternos em todo o mundo, já que gestantes e puérperas integram o grupo de risco para a doença. Em 2020, Manaus teve a RMM de 93,8 (36 mortes), número que foi elevado para 191 em 2021 (71 mortes).
“A mortalidade no mundo aumenta 31% apenas pela existência de uma pandemia, no caso a Covid-19, conforme apontam estudos recentes, e a mortalidade materna cresce 25% por conta da necessidade de interromper processos que já existiam. Então o impacto foi grande, mesmo que os nossos profissionais tenham se distribuído e remodelado os fluxos de atendimento”, pontuou.
Aprimoramento
Há cerca de dois anos, a Semsa passou a realizar a Análise de Causa Raiz do Óbito Materno, uma estratégia pioneira que consiste na identificação de eventuais inconformidades no processo de trabalho nas unidades de saúde. A partir dessa atividade, iniciada todas as vezes que um óbito materno é registrado, a Área Técnica da sede e dos Distritos desenvolvem um plano de ação a fim de aprimorar o sistema.
“Essa análise permite que os profissionais de saúde possam refletir sobre as circunstâncias daquela morte e desse modo, adotar medidas para o aprimoramento do atendimento a fim de evitar determinadas situações. Avaliamos todo o fluxo, desde o acolhimento da gestante, as orientações repassadas, até o agendamento das consultas”, contou a diretora do Departamento de Atenção Primária da Semsa, Sonja Farias.
De acordo com Sonja, o trabalho está apresentando resultados muito positivos, pois serve de subsídio para que o profissional consiga fazer essa autoavaliação e monitorar quais ações estão sendo realizadas nas unidades e como estão sendo desenvolvidas.
“Isso é muito importante para reforçar que cada indivíduo tem a sua peculiaridade, e quando pensamos na assistência em saúde, temos que pensar em um plano individual de cuidados, uma orientação que precisa ser explicada de outra forma conforme seu perfil cognitivo, entre outras medidas”, finalizou.
Perfil
Um levantamento do Núcleo de Investigação de Óbito da Semsa aponta que em Manaus de 2014 a 2021, a maioria das vítimas de mortalidade materna se autodeclarava parda. A faixa etária da maior parte das vítimas era de 30 a 39 anos, seguida das mulheres de 20 a 29 anos, e depois, de 15 a 19 anos. Cerca de 79% delas eram solteiras.
“Idade, raça, estado civil, escolaridade e o padrão socioeconômico são descritos em todos os artigos científicos como fatores que influenciam determinantemente a qualidade de vida das mulheres, com destaque para a questão da maternidade”, explicou a subsecretária da Semasc, Graça Prola.
Segundo ela, a mortalidade materna envolve não apenas as questões de saúde, mas também socioeconômicas e educacionais. Uma das formas de evitar o problema é educar as meninas sobre o seu próprio corpo, promover educação sexual e reforçar a necessidade do acompanhamento médico no processo de gestação.
“Não podemos esquecer que toda vez que um problema na maternidade acontece, há um bebê associado. A vida materna está intimamente ligada à vida do recém-nascido. Ao aprimorarmos o tratamento adequado e oportuno, e um acompanhamento educacional e social, vamos estar salvando duas vidas, tanto da mãe quanto do bebê”, completou a professora doutora Ione Brum.
Texto – Victor Cruz / Semsa
Fotos – Camila Batista / Semsa
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