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Marilene Corrêa, Violeta e Paes Loureiro, pesquisadores da região, criticam o colonialismo interno na organização da COP-30, que acontecerá em Belém
A escolha da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP) para planejar e organizar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas no Brasil (COP-30), marcada para novembro em Belém (PA), é problematizada por pesquisadores da região.
“Esse é mais um caso de colonialismo interno”, reagiu a pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Violeta Loureiro, em rodada de conversas sobre mudanças climáticas promovida pela Valer Teatro, em Manaus.
O poeta e escritor Paes Loureiro, também da UFPA, expressou, no mesmo evento, a sua preocupação com essa escolha, que passa pelo crivo do governo federal, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores (MRE), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) e da Casa Civil da Presidência da República.
Para a socióloga Marilene Corrêa, a reputação e a competência das duas instituições não estão em questão. Mas a pesquisadora adverte que é preciso vigilância sobre a metodologia a ser aplicada na formulação do documento final do encontro. Isso para que as demandas das populações amazônicas não sejam deixadas de lado.
Colonialismo
Violeta Loureiro disse que apesar da boa intenção do presidente Lula de colocar R$ 4 bilhões em Belém para preparar a COP-30, a entrega da organização do evento à USP e à Fundação Getúlio Vargas só reforça a sua tese que a Amazônia sempre foi e ainda é colônia do Brasil.
Ela é autora do livro Amazônia colônia do Brasil (Valer), lançado em Manaus (AM) na Valer Teatro, em sessão de autógrafos. O livro é resultado de estudos das etapas do colonialismo na região e seus efeitos na contemporaneidade amazônica.
Ela justifica que a sua inquietação se refere à escolha de duas instituições de impacto nacional para montar um evento da dimensão da COP-30, porque esse comportamento ignora os saberes e conhecimentos que existem na Amazônia.
“A escolha dos grupos [FGV e USP), instituições de alta competência, mas, de certa forma, é a reprodução de uma mentalidade colonialista que se reproduz internamente. É mais um exemplo desse comportamento de como o governo central brasileiro, historicamente, sempre, e até hoje, imagina a Amazônia como uma colônia do resto do Brasil”, reafirma.
Fora da região
“A COP-30 está sendo organizada fora da região. Já vi, por exemplo, investimento fantásticos em atividades artísticas e culturais em grandes grupos de fora daqui”, advertiu Loureiro.
Há, segundo ele, uma sensação muito grande de que a COP-30 deixe apenas benefícios materiais para Belém, em razão do dinheiro destinado à preparação da cidade para receber o evento.
“A COP-30 pode vir a ser, também, o exemplo melancólico do conhecimento produzido na Amazônia e do conhecimento das pessoas, lá de fora, acham ter sobre a região”, afirmou.
Na avaliação de Loureiro, a Amazônia sofre hoje os efeitos da história de silenciamento da sua própria história, da sua própria cultura. No entanto, infere que a força da função do imaginário possui é absolutamente original e diversa.
A Amazonia é uma diversidade diversa. Não é uma diversidade comum. Ela tem muitos mais sentidos e diferenças que outras regiões”, sustentou o Paes Loureiro.
Metodologia
No entendimento de Marilene Corrêa, as populações da Amazônia estão contempladas na COP-30. No caso, por meio dos debates que antecedem ao evento. Mas reconhece que a metodologia de sintetização dos interesses dos segmentos sociais deveria ser elaborada por instituição mais próximas desses diálogos.
“Por que a FGV? Por que a USP”, questiona a pesquisadora?
Ela explicou que essa observação é importante porque somente os chefes de estados, diplomatas e assessores parlamentares terão acesso às sínteses produzidas pelos grupos sociais. O mais providencial, então, seria uma metodologia elaborada e realizada por instituições que vivenciam a realidade Amazônica.
Ela demarcou três grupos, ministérios, com interesses que podem se chocar:
1 – Ministério do Meio Ambiente dialogou com a comunidade academia e, sobretudo, com grupos de ongs;
2 – Relações Exteriores (Itamaraty) acolheu lideranças quilombolas, indígenas, trabalhadoras e políticos da região amazônica;
3 – Ciência e Tecnologia dialogou, em parte, com a comunidade acadêmica, em parte, com as instituições diplomáticas e, em parte, com as ongs.
“Não posso dizer que os grupos sociais, especialmente os do interior da Amazônia não estivessem mobilizados para os debates da pré-COP”, argumenta Marilene Corrêa.
O que deve ser evidenciado, para ela, é que os interlocutores do evento mudaram nessa COP. “Não são mais só os acadêmicos, as instituições acadêmicas, os campos disciplinares e os ditos intelectuais. Agora participam todos as sujeitas e sujeitos dos movimentos sociais”, acentuou Marilene Corrêa.
É nesse contexto que ela sugere que as instituições próximas aos debates preparatórios também coordenassem a elaboração do documento final, ao invés da FGV e da USP que são instituições distantes da vivência amazônica.
Fonte: BNC Amazonas
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