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Ex-executivo da Taboca, Samuel Hanan explica o valor dos minérios e chama atenção do governo para a tributação.
A venda de 100% da mina de Pitinga para o governo chinês por US$ 340 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) gerou um alvoroço para além do Amazonas. Logo apareceram os discursos de que o negócio privado é risco para a soberania nacional, que a China vai usar o urânio para fabricação de armas nucleares, de guerra e outras teorias.
Para outros, contudo, é só mais uma transação capitalista no mercado mundial.
Trata-se de uma reserva explorada há mais de 40 anos no município de Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus), no Amazonas, inicialmente pela empreiteira Paranapanema, que repassou para a Mineração Taboca, e sob controle de empresa do Peru até então.
Para o ex-diretor da Paranapanema e ex-vice-governador do Amazonas Samuel Hanan, o interesse real da China, como muita gente está apontando, não é apenas no minério radioativo urânio. O mais valioso na reserva mineral está nas preciosas terras raras que se escondem nas profundezas da mina.
“A mina de Pitinga é um negócio praticamente único no mundo. Ela possui uma combinação rara de minerais, incluindo o urânio, mas também terras raras como o ítrio e o xenótimo, que são fundamentais para a indústria de baterias, como as usadas em carros elétricos e híbridos”.
Para ele, o valor da mina vai muito além do urânio, e o Brasil está vendendo um dos recursos mais valiosos do planeta por um preço extremamente baixo.
Segundo Hanan, tratam-se de recursos minerais de alto valor estratégico.
Dessa forma, com o negócio fechado, legalmente, os governos federal e estadual têm uma enorme responsabilidade na forma como vai fazer a arrecadação tributária de cada um desses minérios raros.
Ele fez essas afirmações em entrevista exclusiva ao “Manhã de Notícias”, da TV Tiradentes, na manhã deste dia 2 de dezembro.
Conforme o ex-executivo da Taboca, a mina é uma das maiores reservas de urânio do Brasil, mas sua importância vai além disso. A mina é rica também em cassiterita (mineral de estanho), nióbio, tântalo e os cobiçados mundialmente minérios das terras raras.
São minérios essenciais para a indústria de tecnologia e energia limpa, afirmou Hanan.
A crescente demanda por tecnologia limpa – especialmente por carros elétricos – coloca as terras raras como um dos principais ativos econômicos do futuro.
Hanan destacou que minerais como o ítrio, encontrado na mina de Pitinga, são fundamentais para a fabricação de baterias recarregáveis, um componente crucial para a mobilidade elétrica.
A China, que já domina a tecnologia necessária para a extração e refino desses minerais, está, portanto, adquirindo uma mina de valor inestimável, ao custo de apenas R$ 2 bilhões.
O Brasil, enquanto isso, permanece com pouco retorno financeiro dessa transação.
“Esses minerais são raros, e o Brasil tem a segunda maior reserva mundial de terras raras. No entanto, a falta de tecnologia e de investimentos nacionais fez com que esses recursos fossem praticamente entregues de bandeja para os estrangeiros”.
Responsabilidade do país
A questão central, para Hanan, é a responsabilidade do governo brasileiro em garantir que a exploração mineral seja feita de forma que beneficie o país.
“Mineração não é igual banana. Só dá uma safra, e é finita. Estamos falando de um bem da União, de um bem nacional, um bem finito”.
A transação, segundo ele, revela uma omissão do governo em proteger seus recursos estratégicos.
“Não basta vender por um preço baixo, é preciso garantir que a exploração seja feita com transparência e com a devida tributação, para que o país tenha um retorno adequado.”
Para Hanan, a tributação da mineração no Brasil é um dos pontos críticos que precisam ser revistos.
“A tributação da mineração no Brasil é das mais baixas do mundo, e isso favorece a exploração por empresas estrangeiras sem que o país se beneficie proporcionalmente. Isso precisa mudar, porque recursos minerais como esses são fundamentais para o futuro do Brasil, mas também para o futuro do planeta”.
E o valor?
Embora o valor de R$ 2 bilhões pareça impressionante, Hanan acredita que o preço da venda é uma pechincha, considerando a riqueza real da mina.
“Essa venda não foi pelo urânio, como muitos pensam. Foi um preço muito baixo para algo tão estratégico. Se você pegar o valor da mina há 20, 30 anos, com os juros de 4% ao ano, o valor da venda deveria ser 3 ou 4 vezes maior”.
De acordo com ele, o verdadeiro valor de Pitinga está nas terras raras, que são praticamente intocadas devido à falta de tecnologia para sua separação. Montanhas desses minérios estão sendo entulhados na mina há 40 anos, e que agora podem ser explorados pela empresa de capital chinês.
Hanan ainda enfatiza que, com o avanço tecnológico nos últimos anos, a separação desses minerais se tornou mais viável, o que tornaria a mina ainda mais valiosa no futuro.
A China, portanto, detentora dessa expertise, está pronta para extrair e refinar esses minerais, enquanto o Brasil vê suas riquezas naturais irem embora sem obter as contrapartidas adequadas.
O Governo do Amazonas
Em resposta à venda, o Governo do Amazonas afirmou que apoia investimentos que favoreçam o crescimento econômico e social, desde que cumpram as leis e normas ambientais.
No entanto, a falta de um debate mais profundo sobre o impacto da transação e os benefícios para a população local deixou muitas questões em aberto.
Hanan alertou que, enquanto os investimentos estrangeiros são bem-vindos, é imprescindível que o governo não se omita em relação à exploração dos recursos naturais do estado.
“O Governo do Estado não pode ficar omisso. Ele tem o dever de questionar: qual é o verdadeiro interesse da China nessa transação? Eles estão comprando urânio, mas o que estão realmente levando são as terras raras, que são fundamentais para o futuro da indústria global”.
Fotos: divulgação
Fonte: BNC Amazonas
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