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Desaparecidos no AM: últimos relatos incluem ameaças e invasores armados

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Antes de desaparecerem na Amazônia, o jornalista Dom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian, e o indigenista Bruno Araújo Pereira, servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), se depararam com ameaças de morte e até com invasores armados na divisa de um território indígena, segundo relatos de entrevistados pelo UOL que atuam no Vale do Javari.

Paulo Barbosa da Silva, coordenador-geral da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), disse que o repórter inglês fotografou homens armados que ameaçavam os indígenas. Os homens, segundo Barbosa, seriam ligados a Amarildo da Costa de Oliveira, 41, preso em flagrante nesta terça-feira (7) por posse de drogas e munição de uso restrito, apontado pela Polícia Militar como suspeito de envolvimento no sumiço.

O episódio ocorreu dois dias antes do desaparecimento, na divisa de um território indígena, de acordo com Barbosa. “O Bruno e o Dom Phillips foram visitar a equipe da Univaja quando um grupo de invasores esteve lá. Eles ficaram mostrando arma de fogo, para ameaçar. O jornalista tirou a foto, e os invasores voltaram para a comunidade deles, que fica na área [do suspeito preso]”, relata.

16.nov.2019 – O jornalista Dom Phillips (c) conversa com indígenas da aldeia Maloca Papiú, no Roraima Imagem: JOAO LAET/AFP

Segundo a Polícia Militar, Amarildo foi apontado por testemunhas como o dono da lancha verde que estava logo atrás da embarcação do indigenista e do repórter inglês, no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. A reportagem não conseguiu localizar a defesa dele.

Mas há outro registro antes mesmo da chegada de Dom Phillips à Amazônia. A última foto enviada no dia 1º de junho à irmã e ao cunhado na Inglaterra foi da imagem aérea de um arco-íris ao sobrevoar a região. A imagem foi compartilhada pelo Twitter do colega Tom Phillips. “Essa última foto foi enviada à família antes do desaparecimento”, escreveu.

Dom Phillips e Bruno Pereira já estão desaparecidos há quatro dias. A Justiça Federal determinou ontem o envio imediato de helicópteros, embarcações e equipes de busca ao Vale do Javari. As buscas estão sendo feitas por equipes da Polícia Federal, Secretaria de Segurança Pública do Amazonas e Forças Armadas.

Bruno Pereira participou de viagem com o líder indígena Manoel Chorimpa antes de se encontrar com o jornalista britânico Dom Phillips Imagem: Arquivo pessoal

Indígena revela tensão de Bruno após ameaças Quatro dias após o desaparecimento, o líder indígena Manoel Chorimpa revelou ao UOL detalhes de uma viagem ao lado de Bruno Pereira pouco antes do encontro dele com Dom Phillips. Ele disse ter se encontrado com Bruno em Manaus no dia 15 de maio para visitar territórios indígenas. “Viajamos até o dia 1º de junho. No dia seguinte, ele se encontrou com Dom Phillips”.

Registro de viagem de Bruno Pereira com indígenas antes de encontro com jornalista Dom Phillips Imagem: Arquivo pessoal

Nas duas semanas de viagem, Chorimpa relatou a preocupação de Bruno com as ameaças de morte que vinha sofrendo. “Ele sofre ameaças desde a época em que deflagrou operações com garimpeiros e pescadores que entram na reserva”, disse sobre Bruno, que convive há 12 anos com os povos indígenas.

Depois de se afastar da Funai, o Bruno passou a prestar serviço voluntário. Esse hábito que ele tinha de conviver nas aldeias criou uma relação muito íntima com a população local. O momento é de tristeza e de choque. Eles [Bruno e Dom Phillips] são nossos amigos, parceiros da população indígena do Vale do Javari”Manoel Chorimpa, líder indígena.

Segundo ele, a maior preocupação de Bruno era mesmo nas imediações de Atalaia do Norte, para onde iria com Dom Phillips, onde a tensão com os invasores era maior. “Ele disse: ‘prefiro expor a minha vida a colocar a vida dos indígenas em risco'”.

Imagem: Arte/ UOL

O que se sabe sobre as investigações e as buscas

Um suspeito e quatro testemunhas foram ouvidos, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas. O MPF (Ministério Público Federal), que abriu investigação do caso, acionou Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.

A equipe de busca e salvamento vasculha os rios Javari, Itaquaí e Ituí desde segunda-feira (6). Sete militares da Capitania Fluvial de Tabatinga (AM), duas lanchas, uma moto aquática e um helicóptero estão sendo usados nos trabalhos, segundo a Marinha.

Mergulhadores estão no local, mas não chegaram a atuar nos rios, porque não foram encontrados vestígios da embarcação ou sinais de conflitos. “Eles mergulham quando a gente identifica um local e suspeita que possa ter algo lá”, disse o subcomandante da Polícia Militar do Amazonas, coronel Agenor Teixeira Filho.

Por onde eles passaram

Segundo a Univaja, Bruno e Dom foram visitar uma equipe de vigilância indígena perto do lago do Jaburu, nas imediações da base da Funai no rio Ituí, para que o jornalista pudesse conversar com indígenas que vivem no local.

As entrevistas ocorreram na última sexta-feira (3). Na volta, pararam na comunidade ribeirinha São Rafael, onde Bruno teria uma reunião com o líder comunitário “Churrasco”. Como o líder não estava no local, Bruno, então, conversou com a esposa dele antes de sair.

A dupla foi vista pela última vez por volta das 7h de domingo (5), a bordo de um barco. Eles sumiram no trajeto entre São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde eram aguardados por duas pessoas ligadas à Univaja. 

Fotos: Arquivo pessoal

Fonte: UOL

 

 

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