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O agridoce gosto na boca de voltar a fazer boi depois de dois anos parados, com tantos que ficaram para trás na pandemia, é o que fermenta a maior das expectativas do Caprichoso para seu retorno à Arena. Como se, de repente, tudo que sempre foi feito nos galpões ao longo de tantos anos, passasse a ser completamente novo, o Touro Negro se une e reinventa todo santo dia para fazer do “maior desafio da sua história”, um mais belo capítulo. Tudo tem gosto de primeira vez. De reencontros. Oficialmente em junho, tirando da dor a motivação, o Boi entra em ritmo frenético de reta final para o Festival de Parintins desse ano.
“Eu não sei mensurar a proporção de como vai ser quando pisarmos na arena. Vai ser o alívio de conseguir. E a lembrança daqueles eles não estão ali.Todos os ritos que compõem o grande ritual que é o festival tem o sabor de emoção. O primeiro ensaio. O primeiro Boi de Rua – que eu ainda não senti a emoção. A primeira compra. Reunir todo mundo. Tudo é a primeira vez. A primeira coletiva de imprensa. A primeira saída de alegorias. Foi estranho viver Parintins sem o festival. Ou viver Parintins em lives, onde tínhamos medo um do outro”, tenta descrever o sentimento o presidente do Conselho de Artes do Caprichoso, Erick Nakanome.
Não são poucas as dificuldades que o Boi Negro atravessou – e atravessa – para fazer acontecer o majestoso espetáculo que orquestra para os dias 24, 25 e 26 de junho. Foram dois anos com os galpões completamente parados. De roubos e dívidas adquiridas nos últimos anos à escassez de material para compra – todos os caminhos voltam sempre à pandemia. “Essa é a energia do festival. Superar as intempéries, conquistar o novo tempo e sair triunfante”, adiciona Nakanome.
Histórias que insistem em se entrelaçar o tempo todo, como num processo terapêutico forçado, a dor e a cura andam lado a lado dentro do Caprichoso. E é o que tem ditado algumas decisões. É o caso do giro dos temas. Do antigo, “Terra Nosso Corpo, Nosso Espírito” que foi trabalhado insistentemente até ano passado, quando a diretoria optou por abrir mão e trouxe o novo “Amazônia: Nossa Luta em Poesia”, para afagar as dores que o antigo carregava.
“Esse tema novo vem como um bálsamo porque quando lançamos “Terra Nosso Corpo, Nosso Espírito”, nós apostamos nesse tema durante toda a pandemia. Só deixamos ele tema quando entendemos que, ao ouvir “Sentimentos”, dava muita dor. Porque a compositora faleceu. Ao ouvir determinadas toadas dava o sentimento de frustração por tudo que aconteceu. Entendemos que precisávamos de um bálsamo já que muitas questões ficaram martirizadas pela memória desse momento de tanta perda. Decidimos mudar de tema e colocar no coração do nosso torcedor uma aura de esperança e positividade. Abrir uma nova porta”, explica o diretor.
Dessa forma, tecnicamente falando, o antigo tema não será descartado. O discurso de um será incorporado ao outro, dentro de uma especificação mais direcionada. Pode-se esperar uma fundamentação de estrutura poética e discursiva na arena, do ponto de vista estratégico do Conselho de Arte. Um “melhor dos dois mundos”, versão temas.
“Estamos muito felizes com nosso tema do ano. Nosso tema nasceu como resposta a uma dura crítica que nós, do Boi, passamos. Dizem que “falam tanto da Amazônia, mas não fazem nada”. A ideia é dizer que, assim como um professor numa universidade, busca, por meio de um artigo ou livro, defender a Amazônia, assim como um cientista busca a cura de uma doença, os nossos artistas lutam da forma que sabem fazer de melhor: pela sua arte. Pela sua poesia. É uma luta dançada, coreografada, cantada, esculpida, pintada. A proposta é dizer que o artista luta com o que ele tem de melhor. Cantar aquilo o que ele é”, conclui Ericky.
Trabalhos no galpão
Para traduzir em arte viva o que os versos vão ecoar no Bumbódromo, os artistas plásticos trabalham sem parar nos galpões do Caprichoso nesta reta final até o festival. A entrada no mês de junho é simbólica para acender o radar de que, virando a esquina, chega, enfim, o dia de dar vida à “Amazônia Nossa Luta em Poesia”. Nesta primeira semana do mês, eles calculam que cerca de 70% dos trabalhos de alegoria já estão concluídos.
“O ritmo está quente. Estamos a todo vapor. O Boi se organiza sempre muito cedo, mas com a Pandemia houve todo esse tempo parado. Sabemos que está muito apertado, mas sabemos que dá. Parece que, quanto menos tempo, mais o artista parintinense fica ágil. Mais gás ele tem. Quando chega em junho a gente faz uma reunião para dar esse alerta: chegou a hora, vamos embora. Acelera. É automático. Chegou junho, todo mundo se esperta”, diz Algles Ferreira, artista plástico e algebrista do Caprichoso.
Hoje, trabalham nas instalações uma média de 300 a 400 funcionários, divididos em 10 equipes. A promessa é de que, para o Festival 2022, a turma da Francesa traga para a Arena alegorias mais dinâmicas para desenvolver o tema. E esse é o máximo de spoiler que eles se permitem soltar, avisa brincando.
“Muitas novidades, muitos movimentos novos e movimentações diferentes. Muitas aparições. O torcedor vai ver coisa nova, coisa grande. O Caprichoso tem essa marca de fazer grandes espetáculos. Difícil vai ser não se surpreender”.
Foto: Arlesson Sicsú
Fonte: Acritica.com
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