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Meio Ambiente

Queimadas no Amazonas afetam Manaus e municípios do interior

Queimada em desmatamento recente na Gleba Abelhas, uma floresta pública não destinada federal localizada no município de Canutama, Amazonas, muito próxima da TI Juma. Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace

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Na madrugada de sexta-feira (1º), um cheiro forte de fumaça invadiu as casas em Manaus (AM), como resultado de incêndios de grandes proporções que acontecem em Autazes e Careiro da Várzea, municípios localizados no interior do Amazonas, segundo os dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O mês começou e a temporada de queimadas, intensificada pelo fenômeno El Niño, já chega com força no estado.

Na última quinzena, o Amazonas lidera o ranking de queimadas na Amazônia. São 5.474 focos do início de agosto até agora, sendo que 4.128 ocorreram nos últimos 16 dias. Esse número corresponde a 35,4% dos focos de calor de toda a Amazônia Legal, segundo o satélite de referência do Inpe.

“São muitos focos em Autazes e no sul de Careiro da Várzea, com vento soprando de sul-sudeste para norte-noroeste em direção a Manaus. Direção da trajetória parecida com a da pluma saindo dos focos do município de Manaquiri e chegando em Manacapuru”, explica o coordenador do Programa de Monitoramento de Queimadas e Incêndios Florestais por Satélites do Inpe, Alberto Setzer.

Nas últimas 48 horas, os números pioraram. Sete dos 10 municípios com mais focos na Amazônia Legal estão concentrados no Amazonas, de acordo com números desta sexta, Autazes (8,7%), Apuí (7,2%) e Humaitá (7%) lideram o ranking, seguidos de Maués (6%), Tefé (5,2%), Lábrea (4%) e Boca do Acre (3,5%).


Focos de calor nos municípios do Amazonas registrados no dia 1 de setembro. Foto: Reprodução/ aplicativo Windy

Desde o início do ano, o desmatamento tem caído na Amazônia brasileira. De janeiro até julho, a queda foi de 42,5%. Em contrapartida, os picos de focos de calor bateram recordes em junho, mês que registrou 3.075 focos, o que não acontecia há 16 anos.

“Hoje mesmo, vindo para cidade, o máximo que conseguimos enxergar é um metro à nossa frente por conta da fumaça. Pessoas estão fazendo queimadas para fazer campo para seu rebanho”, disse à Amazônia Real o professor Felipe Gabriel, do povo Mura da aldeia Lago do Soares, em Autazes.

Para ele, a situação pode ter ligação com o julgamento do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal (STF) e os debates sobre territórios indígenas. Autazes, um município de perfil ruralista, trava uma luta intensa contra o reconhecimento da Terra Indígena Soares-Urucurituba, que aguarda demarcação e pertence ao povo Mura. A região está sob pressão para exploração de potássio.

“É lamentável porque sabemos que alguns estão fazendo campos para tentar garantir seus direitos sobre as terras, com medo de serem ‘tomadas’ pelos indígenas. Nós, indígenas, não queremos expulsar ninguém”, diz Felipe. “Pelo fato de nossa cidade ser conhecida como terra do leite e, agora, como terra do potássio, as autoridades só visam a parte lucrativa. O próprio gestor do município só aparece na nossa comunidade e em algumas outras perto das eleições. O foco das autoridades é lucro. Esquecendo do essencial: saúde e educação”.

Foto: Reprodução

Heitor Pinheiro, analista de processamento da Fundação Vitória Amazônica (FVA), afirma que o cenário tende a piorar na região. “Essa fumaça que cobriu Manaus veio da região de Autazes, mas está generalizado, todo canto pegando fogo”. Ele ressalta que, além do sul do Amazonas, outras partes do estado, como o município de Presidente Figueiredo, têm focos de calor e estão com as brigadas voluntárias da FVA em plena ação.

“Este ano, especialmente em função do El Niño, as florestas ficam mais secas e mais propensas ao fogo. Isso aumenta consideravelmente a dificuldade de controle desses eventos de pequenos focos de calor que podem se alastrar e se tornar incêndios maiores”, explica o coordenador executivo da FVA, Fabiano Silva. “Sem dúvida nenhuma o fato da gente estar entrando no período de El Niño forte preocupa bastante, principalmente em função da capacidade muito limitada que o estado tem de combate desses focos aqui na região de Manaus”.

De janeiro até agosto, lideram no ranking das queimadas os seguintes estados: Pará (32,3%), Amazonas (24,7%) e Mato Grosso (22,3%), seguidos de Rondônia (7,8%), Acre (5,8), Roraima (4,2%), Maranhão (2,2%), Tocantins (0.4%) e Amapá (0,4%).

A Secretaria do Meio Ambiente acrescentou que as altas temperaturas agravadas pelo El Niño também estão relacionadas com a dificuldade de dispersão da fumaça no ar, e que há uma diminuição dos focos com relação ao mesmo período do ano passado em 32,5% e de 21,20% de janeiro a agosto no Amazonas.

O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) do Amazonas, Joel Araújo, informou que a competência de fiscalizar as áreas de onde vem a fumaça é do governo do Amazonas e do município.

“O Ibama trabalha no sul do estado, principalmente em áreas federais. Nos arredores de Manaus, essa competência é do município e do estado”, afirma Joel. “A não ser que se trate de terra indígena, aí é com Ibama”, finalizou.

 

 

Fonte: Amazônia Real

 

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