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Por que Marina Silva decidiu apoiar Lula antes do primeiro turno

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Desde que a campanha eleitoral começou, Marina Silva já sabia que em algum momento acabaria declarando apoio público a Lula. Discutiu essa possibilidade diversas vezes com aliados e auxiliares mais próximos e a considerava inevitável, mas no início da corrida pensava em fazer isso apenas no segundo turno.

Sua relutância e a resistência de correligionários da Rede, como a candidata a deputada federal pelo Rio Heloísa Helena, pesaram na decisão do partido de adotar uma postura independente em relação aos candidatos a presidente.

Vários dos aliados de Marina estão com Ciro Gomes nesta eleição, e ela mesma chegou a cogitar seguir com ele, há uns meses.

Só mais recentemente Marina passou a considerar declarar apoio a Lula já no primeiro turno, e isso independentemente de ele a chamar para conversar, como fez no último domingo, por intermédio de Gilberto Carvalho.

Uma das razões que a levaram a mudar de ideia foi o fato de as pesquisas mostrarem que as chances de um segundo turno tinham aumentado. Na avaliação do grupo mais próximo de Marina, um segundo turno entre Lula e Bolsonaro será “muito ruim”.

Os recentes episódios em que dois bolsonaristas assassinaram petistas depois de discussões sobre política também assustaram Marina, que passou a achar mais urgente assumir uma posição mais enfática. “As pessoas começaram a matar as outras nas ruas”, ela me disse ontem, por telefone, ao refletir sobre as razões para o apoio.

Na entrevista coletiva sobre o apoio, ela classificou Bolsonaro como a “ameaça das ameaças”, e disse que o país e sua democracia precisavam ser reconstruídos.

Até que o encontro de fato ocorresse, ela deixou claras aos emissários de Lula as suas condições: teria que ser uma conversa institucional e em torno de um programa.

Ela queria evitar que a reunião a tivesse qualquer tom pessoal e passasse pelas cicatrizes deixadas pela campanha de 2014, quando o PT empreendeu uma campanha de difamação contra ela baseada em fake news. Marina não gosta da abordagem adotada por parte dos petistas em relação ao assunto – muitos deles falam em mágoa, o que ela considera uma forma de diminuir o que aconteceu.

Lula já sabia das exigências de Marina ao convidá-la para uma reunião na sede do comitê de campanha e não para um jantar em sua casa, por exemplo.

E ela já chegou ao encontro com uma lista de propostas. Ao final, pediu que os petistas analisassem tudo com atenção antes que ela anunciasse seu apoio. Naquele momento, portanto, ficou combinado apenas que Lula anunciaria nas redes sociais que tinham conversado.

Nesta segunda, quando se encontraram novamente, o coordenador do programa, Aloizio Mercadante, já tinha em mãos a lista de pontos revisada e comentada. E concordou em quase todos, à exceção dos que já estavam no programa do PT.

Para Marina, o mais importante era garantir que todas as políticas públicas tenham como base as metas de sustentabilidade estabelecidas pelo Acordo de Paris, o que deve ser feito com a formação de uma Autoridade Nacional de Mudança Climática dentro do governo. “Foi o que ela tentou quando ministra e o Lula não bancou, ficou do lado da Dilma”, conta um aliado.

Perguntei a Marina o que a fazia acreditar que agora a promessa seria cumprida. “Foi um compromisso público, assumido na frente de todo mundo”, ela respondeu.

Foto: Miguel Schincariol/AFP

*O Globo 

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