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Dzoodzo Baniwa será homenageado na categoria Vida e Obra do Prêmio Fundação Bunge 2025 por sua atuação na educação indígena e no monitoramento ambiental no Rio Negro
O ano de 2025 marca a 70ª edição do Prêmio Fundação Bunge, criado para homenagear cientistas e pesquisadores que desenvolvem trabalhos relevantes para o país. Inspirado no Nobel, o prêmio reconhece contribuições para a ciência, tecnologia, cultura e educação no Brasil. Entre os vencedores deste ano está Dzoodzo Baniwa, educador, pesquisador e líder indígena do povo Baniwa, que vive na aldeia Santa Isabel do rio Ayari, em São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas.
O pesquisador será agraciado na categoria Vida e Obra, no tema “Saberes e práticas dos povos tradicionais e sua importância para a conservação dos recursos naturais”. A cerimônia de entrega está marcada para o dia 23 de setembro, em São Paulo. Os contemplados na categoria receberão R$ 200 mil como reconhecimento.
Reconhecimento histórico para saberes indígenas
À reportagem de A CRÍTICA, Dzoodzo, comentou que o prêmio tem um significado profundo.
O líder destaca que as comunidades indígenas guardam conhecimentos acumulados por séculos sobre a Amazônia e agora encontram na ciência uma aliada.

Saberes ancestrais e ciência contra a crise climática
Questionado sobre como o conhecimento indígena pode contribuir para enfrentar as emergências climáticas, Dzoodzo ressaltou:
“Os impactos das mudanças climáticas não vêm fragmentados; eles são sistêmicos. Por isso, as respostas devem ser dadas com pensamento sistêmico, integrando saberes ancestrais e científicos.”
Segundo o pesquisador, integrar conhecimentos indígenas aos métodos científicos não é apenas uma questão de justiça, mas uma necessidade para construir soluções eficazes.
“A integração dos saberes indígenas no campo científico não representa apenas uma questão de justiça epistêmica, mas uma necessidade pragmática para encontrar soluções eficazes para a crise climática.”, pontuou.
Mudanças climáticas já são visíveis no Rio Negro
O pesquisador também atua na educação indígena com foco no monitoramento de mudanças climáticas. Ele explica como a formação de jovens em metodologias participativas tem sido essencial.
“Meu trabalho na educação escolar indígena é promover a educação integral indígena, trabalhando com a metodologia de pesquisa-ação em monitoramento ambiental e climático. Essa abordagem educacional prepara jovens indígenas resilientes capazes de adaptar e responder aos desafios climáticos locais a partir de uma perspectiva sistêmica intercultural”, comentou o pesquisador.
Dzoodzo afirma que as evidências já são alarmantes. “Extremas secas causam impactos sistêmicos sobre a dinâmica da água: nível baixo, aumento de temperatura, mortalidade de peixes, floresta seca e vulnerável a incêndios. Já as extremas enchentes impactam a agricultura, atingem roças, moradias e desorganizam ciclos naturais, comprometendo a soberania alimentar”, relatou.
Conhecimento integral é chave para soluções criativas
Para Dzoodzo, o diálogo entre ciência e saberes indígenas é essencial para lidar com as mudanças climáticas. “O conhecimento científico e o conhecimento indígena precisam encontrar um lugar comum para construir um saber integral, sistêmico e intercultural. Esta convergência não implica subordinação de uma forma de conhecimento à outra, mas sim o reconhecimento de suas complementaridades.”
Ele acredita que essa união pode gerar inovações importantes: “Somente assim abriremos um caminho para soluções criativas, inovadoras e culturalmente apropriadas.”
Mensagem para a COP 30: ouvir os povos indígenas
Com a COP 30 marcada para acontecer na Amazônia, Dzoodzo defende a inclusão efetiva dos povos indígenas nas decisões.
“Gostaria de dizer que a abertura de oportunidades para escuta e participação indígena nos debates, discussões e processos de tomada de decisão sobre o futuro da Amazônia, da humanidade e do planeta é necessária. Por séculos, as populações indígenas foram excluídas das esferas de poder.”
Ele conclui com uma mensagem de esperança e urgência: “Nós indígenas temos a visão biocêntrica, que coloca a vida como prioridade em todas as dimensões para tomada de decisões.”
Quem é Dzoodzo Baniwa
Dzoodzo, cujo nome civil é Juvêncio Cardoso, é educador e pesquisador indígena com atuação destacada na promoção da Educação Integral Indígena e no monitoramento climático no Rio Negro. Licenciado em Física Intercultural pelo Instituto Federal do Amazonas (Ifam) e mestre em Ensino de Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ele é professor, liderança e articulador de redes colaborativas de pesquisa. Foi Secretário Executivo da Organização Baniwa e Koripako Nadzoeri e atuou como coordenador regional do rio Içana na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN).
Além de liderar projetos educacionais inovadores, Dzoodzo integra a Rede de Pesquisadores Indígenas do Rio Negro, com trabalhos voltados para soluções sustentáveis em territórios indígenas.
Fonte: A Crítica
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