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Manaus enfrenta um caos viário que se agrava a cada ano, resultado de projetos fracassados e da falta de investimento em soluções inteligentes para mobilidade urbana e o trânsito da capital amazonense.
No centro desse problema, está um Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) que opera sem o corpo técnico necessário para lidar com os desafios de trânsito de uma cidade com mais de dois milhões de habitantes.
A falta de especialistas em mobilidade urbana e trânsito, como engenheiros de tráfego, e de um planejamento efetivo é um reflexo da desorganização interna do órgão.
Para agravar a situação, um dado chama atenção: o maior salário do IMMU não é de um especialista em mobilidade e trânsito, mas de uma assistente social. Com média salarial líquida de R$ 23.574, superando em mais de 100% o salário do próprio Diretor-Presidente, que recebe R$ 10.400 mensais.
Essa profissional recebe mais do que os raríssimos técnicos do órgão, mais do que os especialistas que deveriam estar planejando soluções para o trânsito da cidade e, surpreendentemente, mais do que o próprio Diretor Presidente do IMMU.
A desvalorização de profissionais essenciais
A gestão da mobilidade urbana e trânsito exige um corpo técnico multidisciplinar, composto por engenheiros de transporte, arquitetos urbanistas, economistas, especialistas em tecnologia, sociólogos, ambientalistas e especialistas em segurança viária.
Esses profissionais são responsáveis por planejar e implementar soluções que tornem a cidade mais acessível e segura. Em Manaus, no entanto, esses especialistas são praticamente inexistentes no IMMU, pelo menos eles não constam de maneira específica no site da Transparência do órgão.
Para efeito de comparação, a cidade de Campinas (SP), que possui uma frota semelhante à de Manaus – 992.487 veículos – conta com 16 engenheiros e 19 arquitetos dentro do seu órgão de mobilidade e trânsito. Em Manaus, nenhum engenheiro de tráfego consta na folha de pagamento do IMMU.
A ausência de profissionais especializados reflete diretamente na incapacidade do órgão de lidar com o aumento da frota de veículos.
Frota de 988.298 ônibus e sistema sobrecarregado
Em 2024, Manaus registrou um aumento de 5,5% na frota em comparação a 2023, totalizando 988.298 veículos. Sem um planejamento eficiente, a cidade enfrenta um sistema viário cada vez mais sobrecarregado.
A estrutura de pessoal do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) revela um quadro de discrepâncias salariais e uma preocupante ausência de profissionais técnicos essenciais para o planejamento e gestão da mobilidade e do trânsito em Manaus.
Em setembro de 2024, último mês com dados disponíveis no Portal da Transparência, o IMMU contava com 681 servidores, entre estatutários e comissionados. Destes, 333 eram agentes de trânsito, 251 ocupavam funções administrativas e apenas 97 exerciam atividades técnicas.
A falta de atualização das informações impede uma análise mais precisa da real estrutura do órgão, comprometendo a transparência na gestão pública.
No entanto, entre os cargos técnicos, há 58 assessores técnicos, 8 advogados, 14 contadores e um controlador, sem a presença de engenheiros ou arquitetos.
A ausência dos profissionais técnicos fundamentais para o planejamento urbano e de trânsito, pode indicar desvio de função, o que é proibido por lei no serviço público.
Distorções salariais
Outro ponto que chama atenção é a remuneração no órgão. De acordo com o Portal da Transparência, os assessores técnicos recebem salários inferiores aos de cargos administrativos, o que sugere uma distorção nos critérios de valorização profissional.
As menores médias salariais líquidas incluem cargos essenciais para o planejamento urbano e a mobilidade, como Analista de Tráfego e Trânsito (R$ 2.377), Analista de Planejamento e Circulação (R$ 2.108) e Gerente de Projetos (R$ 2.270).
Enquanto isso, os salários mais altos se concentram em funções administrativas, como Agente Administrativo P2 (R$ 29.983), Gerente de Finanças e Contabilidade (R$ 17.095) e Chefe de Divisão de Administração (R$ 15.259).
Diretores de departamentos fundamentais para a mobilidade, como os responsáveis pelo Departamento de Projetos de Sinalização Viária (R$ 9.567), Departamento de Projetos e Obras (R$ 9.127) e Departamento de Educação de Trânsito e Estatísticas (R$ 5.600), recebem uma média salarial líquida abaixo do esperado para a responsabilidade de suas funções.
Esses valores são inferiores às médias salariais líquidas das funções de Auxiliar de Serviços Gerais (R$ 9.943) e Pintor (R$ 9.785).
Há ainda distorções entre funções de mesma nomenclatura. Um Analista de Planejamento e Circulação (R$ 2.108) recebe quatro vezes menos que um Analista Contábil (R$ 9.631), que não tem vínculo direto com a mobilidade urbana, atividade fim do órgão.
Cada um dos 333 Agentes de Trânsito, responsáveis pela fiscalização, recebe uma remuneração média líquida de R$ 8.255, valor inferior ao de funções administrativas como Técnico em Contabilidade (R$ 9.775) e Telefonista (R$ 8.319).
Para efeito de comparação, a remuneração dos profissionais de mobilidade urbana no Brasil varia conforme a experiência e a região, mas em geral apresenta valores bem distintos dos praticados no IMMU.
Engenheiros de Transporte e Mobilidade Urbana recebem, em média, R$ 5.838 mensais, podendo chegar a R$ 12.265 em casos mais experientes. Arquitetos e urbanistas têm faixa salarial média de R$ 8.900, enquanto especialistas em segurança viária recebem entre R$ 6.300 e R$ 12.600.
Ex-servidores do IMMU ouvidos pelo RealTime1 afirmam que a baixa quantidade de profissionais e a remuneração limitada dificultam avanços na mobilidade urbana.
Isso porque o instituto não dispõe diariamente dos 333 agentes para cobrir as cerca de 12 mil ruas da capital. Mesmo com 100% do efetivo em serviço, cada agente seria responsável, em média, por 36 ruas, o que compromete a fiscalização e a organização do trânsito.
Diante desse cenário, torna-se necessário reavaliar a distribuição de recursos no IMMU. A única solução viável para esse gargalo é o investimento em inteligência e tecnologia, que, a médio e longo prazo, se mostram mais eficientes e econômicos do que a ampliação do quadro de servidores, considerando desafios como tempo de carreira, substituições, afastamentos por saúde, licenças e férias.
Enquanto o investimento em tecnologia requer manutenção, seu custo-benefício é superior à dependência exclusiva de recursos humanos.
Três décadas de fracasso
O problema da mobilidade urbana em Manaus não é recente. Desde a década de 1990, várias soluções foram anunciadas e nunca concretizadas.
O Expresso, o BRT, o VLT, o Monotrilho – todos esses projetos foram apresentados como a chave para resolver o caos do trânsito e acabaram engavetados ou transformados em ficção científica.
Hoje, mais de três décadas depois, Manaus segue sem um sistema eficiente de transporte público e sem planejamento para acomodar o crescimento da frota. A cidade continua refém de soluções paliativas e improvisadas, sem avanço real.
O papel da tecnologia
A solução para o trânsito de Manaus passa necessariamente pelo uso da inteligência e da tecnologia. Investir em sistemas de geoprocessamento, Big Data e mobilidade inteligente é um caminho muito mais viável e barato a médio e longo prazo do que depender exclusivamente de recursos humanos.
A tecnologia permite monitoramento em tempo real, otimiza o fluxo de trânsito e reduz custos operacionais.
Em vez de aumentar a burocracia do IMMU e manter uma estrutura defasada, a gestão municipal deveria priorizar a modernização do sistema de trânsito, investindo em infraestrutura inteligente e integrando modais de transporte de maneira eficiente.
Além disso, é inadmissível que um instituto de mobilidade e trânsito não busque parcerias com os departamentos de engenharia da Ufam e da UEA, que produzem inúmeros estudos acadêmicos, muitos deles voltados para soluções de trânsito e mobilidade em Manaus.
Sem profissionais qualificados e sem investimentos em soluções tecnológicas, Manaus continuará atolada no trânsito, refém da própria inércia e incapacidade de evoluir.
Enquanto isso, no IMMU, os cargos administrativos seguem recebendo salários elevados, enquanto a cidade segue sem perspectivas de solução real para seu maior problema urbano.
Prefeito pretende mudar a engenharia de trânsito para outra secretaria
Durante coletiva de imprensa na segunda-feira (10/2), durante a abertura das atividades da Câmara Municipal de Manaus (CMM), o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante) anunciou que vai tirar a engenharia de trânsito do IMMU para a secretaria de infraestrutura (Seminf), comandada pelo vice-prefeito Renato Jr (Avante).
De acordo com o prefeito, essa e outras medidas farão parte da reforma administrativa que será encaminhada à Casa Legislativa ainda em fevereiro.
Confira a remuneração média bruta e líquida dos cargos do IMMU:

Fonte: RealTime1
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