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A revolta e a tristeza marcaram a despedida de Aziel Floriano, de 21 anos, indígena morto na Aldeia Kondá, em Chapecó, no Oeste catarinense. A mãe dele comentou, indignada, a perda do filho.
“Índio se matando? Eles não são índios. Por que eles tinham arma? Índio tem arma? Quem eu saiba, os brancos que têm arma. Eu sei que meu filho não vai voltar. Eles vão ter tudo ali, eles vão ter os filhos deles perto deles, e eu não”, disse Andreia Matos.
Além de um morto, o conflito, que aconteceu no domingo (16), deixou feridos e casas incendiadas. Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o conflito tem a ver com uma disputa de poder que dura mais de 30 dias. Coordenador regional do órgão, Adroaldo Antônio Fidelid diz que o caso envolve opositores do atual cacique.
Andreia Matos, mãe de indígena morto em conflito em aldeia de Chapecó, SC — Foto: Reprodução/NSC TV
O conflito começou depois de uma festa, que aconteceu no sábado (15) à noite. Segundo a Polícia Militar, após uma briga generalizada, duas pessoas foram atingidas por tiros.
“Por volta do meio-dia, ao tomar conhecimento do óbito desse homem de 20 anos, as pessoas começaram, de novo, uma briga generalizada. Houve incêndios em residências e veículos que estavam no local. Novamente fomos, em apoio à Polícia Federal, ao local para amenizar os ânimos”, relatou Rafael Antônio da Silva, comandante do Batalhão da PM de Chapecó.
Pelo menos 11 pessoas ficaram feridas. A PF permanece no território indígena e não tem prazo de sair do local, para evitar novos confrontos.
Segundo a Funai, a aldeia vive um conflito interno. Desde 2018, são realizadas eleições diretas para a escolha do cacique. Efésio Siqueira é o atual. Ele afirma que a oposição não reconhece o resultado das eleições do ano passado.
“O que está acontecendo mesmo é que eles querem tomar o poder, que tenho dois anos ainda para cumprir. Daqui a dois anos, vai ter uma eleição de novo. É isso que eu quero que cumpra. E que a Justiça olhe para esses lados. O mais breve possível que os autores desse crime sejam… que a justiça seja feita para essas pessoas”. declarou Efésio.
Edson Rodrigues é um dos líderes de oposição. Ele afirmou que desde de quinta-feira (13) o grupo de oposição vem sofrendo ameaças de expulsão da aldeia.
“No momento antes de acontecer, na quinta-feira à noite, pelas redes sociais e Whatsapp, já estava tendo essa discussão, esse conflito, intimidando o pessoal”, disse Edson.
Diversas famílias deixaram a aldeia após a briga. Eram por volta das 20h de domingo quando elas começaram a chegar ao Ginásio Ivo Silveira. De acordo com a Secretaria de Família e Assistência Social, cerca de 280 pessoas permaneciam no local até a noite desta segunda (17).
Segundo nota do Ministério Público Federal, a situação se acirrou após a instauração de procedimentos para apurar possíveis irregularidades que “teriam sido cometidas durante mandato da liderança anterior e, também referente à possíveis irregularidades que resultaram no mandato da atual liderança”.
Policiais passaram o dia na aldeia Condá para evitar novos conflitos — Foto: Gabriel Guimarães/ NSC TV
Os moradores da aldeia que pediram ao MPF por essas apurações. O Ministério Público Federal recomendou, ainda, o deslocamento da Força Nacional de Segurança Pública para a Aldeia Kondá. Por enquanto, não há previsão de retorno das famílias à aldeia.
O MPF deu o prazo de 48 horas, a partir do recebimento do documento, para que o secretário Carlos Renato Machado Paim comunique se pretende acatar a recomendação, que foi enviada no domingo.
Ele deverá apresentar informações detalhadas sobre as providências já adotadas e aquelas que pretende tomar – além de eventuais justificativas para o seu não atendimento, acompanhadas de documentação comprobatória.
O g1 SC procurou a Secretária Nacional de Segurança Pública, por meio de assessoria, mas não teve retorno até a última atualização do texto.
Acolhimento
Indígenas que moram na aldeia passaram a noite de domingo (16) acolhidos no Ginásio Municipal Ivo Silveira. Nesta segunda-feira (17), mais de 200 pessoas, entre crianças, adolescentes e idosos, estão do local.
Segundo o que apurou a NSC TV, alguns dos desabrigados perderam as casas que foram incendiadas. Outros, deixaram a aldeia Kondá por medo de novos conflitos. Não há previsão de quando os desabrigados deixarão o espaço.
Os indígenas foram levados para o ginásio da prefeitura após autoridades terem sido chamadas na aldeia, no interior do município, no início da manhã de domingo. A Polícia Federal também foi chamada e abriu um inquérito para confirmar as causas do crime e identificar os autores.
Por conta do conflito, as aulas no Centro Educacional Infantil Sa Pe Ty Ko Si, na localidade Água Amarela, foram suspensas nesta segunda-feira.
Ocorrência
A Polícia Militar foi chamada por volta das 8h de domingo. No local, ocorria uma festa e indígenas de um grupo opositor ao atual cacique teriam ido até o espaço e uma briga generalizada teria começado.
O Serviço Aeropolicial da Polícia Civil foi chamado e sobrevoou a região. Durante a briga, cerca de 17 casas e cinco veículos foram incendiados.
O g1 tenta contato com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) desde domingo. Até a última atualização do texto, não houve retorno.
Foto: SAER/Polícia Civil/Divulgação
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