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Amazonas

Gás de Coari chegará a cidades ‘isoladas’

Petrobras anuncia contrato inédito de comercialização de gás natural da província de Urucu, no Amazonas. Objetivo é atender cidades ‘isoladas’ (Foto: Divulgação/Petrobras)

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Petrobras firmou acordo inédito com a Amazônica Energy para venda e distribuição do gás de Urucu além do gasoduto

A Petrobras assinou um contrato inédito com a empresa Amazônica Energy para venda direta do gás extraído em Urucu, no município de Coari, a 363 quilômetros de Manaus. O objetivo é estender o alcance do gás natural a outras cidades da Amazônia, que hoje é distribuído por meio do gasoduto Coari-Manaus, atendendo a capital e outros cinco municípios do estado.

A comercialização está prevista para iniciar em fevereiro de 2028, em um contrato com período inicial de dez anos. A estimativa é que o volume possa chegar a 100 mil metros cúbicos por dia, o que, apenas para comparação, abasteceria 6,6 mil carros a gás diariamente. Questionada, a Petrobras não informou o valor do contrato, alegando informação estratégica.

O contrato foi anunciado com exclusividade para A CRÍTICA. À reportagem, o gerente executivo de Gás e Energia da Petrobras, Álvaro Tupiassu, destacou o teor inédito da iniciativa.

“Esse contrato reforça o compromisso da Petrobras de apresentar soluções que impulsionem o setor energético nacional. Nesse caso em específico, ampliando o acesso ao gás natural na região norte. Uma nova modalidade, uma nova solução que acaba impulsionando a economia local, fazendo chegar o gás a locais que antes não chegavam, e trazendo mais sustentabilidade para a economia da região”, afirma.

 Objetivo

 De acordo com o projeto, o gás seguirá normalmente de Urucu até Manaus por meio do gasoduto. É na capital amazonense que será transformado para a forma líquida em uma estação de liquefação, a fim de ser transportado em caminhões e barcaças de calado raso.

O projeto prevê investimentos da Amazônica Energy na ordem de até US$ 70 milhões em unidades de liquefação, transporte e regaseificação de GNL, além da ampliação do ponto de entrega de transporte. A estimativa é que sejam gerados entre 500 e 600 empregos na fase de construção da infraestrutura, além de uma cadeia permanente de empregos na fase de operação, navegação e manutenção.

“Em um primeiro momento, vamos atender os clientes por cargas via rodoviárias, no perímetro de até 150 quilômetros, mas a expansão do projeto já alcança outras regiões que têm pedidos e, nesse caso, a gente vai usar modal rodofluvial para levar o produto”, explica o CEO da Amazônica Energy, Marcelo Araújo.

Segundo ele, o foco é atender empresas e municípios que ainda dependem de geração de energia por meio de fontes mais caras e poluidoras, como carvão e, principalmente, o diesel. No Amazonas, apenas Manaus e outros cinco municípios integram o Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia. Todos os outros estão isolados, dependendo de termelétricas.

O foco inicial do projeto é no Amazonas, considerando a proximidade com Manaus, mas já há expectativa de expandir a distribuição a outros estados da Amazônia, como Roraima, Pará e Rondônia. Além disso, a Petrobras enxerga o contrato com a Amazônica Energy como um piloto de outros negócios similares que podem ser fechados no futuro.

“O gás natural é um combustível bem mais competitivo comparado com o diesel e com o GLP [Gás Liquefeito de Petróleo], por exemplo. Ainda que seja um produto que requeira implantação de infraestrutura, de navegação, logística, liquefação, ainda assim chega ao consumidor final com um ganho de preço bastante atrativo”, destaca Marcelo, entendendo que os benefícios se estendem para o bolso dos clientes.

 Polo Urucu atende 65% da energia

 A produção de gás natural em Coari teve início na década de 1980, quando a Petrobras descobriu o campo de Urucu, considerado o maior polo terrestre de petróleo e gás do país. A extração começou em escala experimental em 1986 e, por muitos anos, o combustível era utilizado apenas para abastecer termelétricas locais ou era reinjetado nos poços, devido à falta de infraestrutura para o transporte até outras regiões.

Álvaro Tupiassu diz que Petrobras tem investido em novas fontes de energia

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 Esse cenário mudou com a construção do Gasoduto Coari-Manaus, que percorre cerca de 662 quilômetros da floresta amazônica até a capital. Inaugurado em 2009, o gasoduto permitiu o escoamento do gás de Urucu para Manaus e outros municípios, possibilitando a utilização do gás natural em termelétricas, residências (em níveis baixos) e no Polo Industrial.

O Polo de Urucu é o terceiro maior produtor de gás natural do Brasil, com uma produção média de 5,1 milhões de metros cúbicos por dia, que abastece 65% da geração de energia elétrica de Manaus e de outros cinco municípios do Amazonas.

Além disso, o gás de cozinha (GLP), com uma média de 80 mil botijões diários, abastece todos os estados do Norte e parte do Nordeste do país.

A operação gera cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos, incluindo aproximadamente 1.000 trabalhadores na região, que se deslocam diariamente de Manaus e Carauari principalmente para trabalhar na unidade.

 Anúncio ocorre no mês da COP 30

 O anúncio público da comercialização ocorre no final de semana que antecede a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30). O evento, que reunirá mais de 190 países em Belém (PA), vai de 10 a 21 de novembro. Um dos temas sensíveis da reunião global são os combustíveis fósseis.

A Petrobras, que obteve no mês passado autorização para pesquisa de petróleo na Margem Equatorial, no Amapá, vem sendo pressionada por organizações ligadas ao meio ambiente para acelerar a transição energética até o fim dos combustíveis fósseis. Embora o gás natural seja considerado mais “limpo”, também emite dióxido de carbono e metano, dois gases do efeito estufa.

Álvaro Tupiassu diz que a Petrobras fornece cerca de 31% de toda a energia primária do Brasil e que o plano da companhia é pelo menos manter o mesmo percentual de participação nos próximos anos. O caminho passa por manter o petróleo e o gás, mas diversificar as fontes de energia.

“Cito como exemplos no nosso plano, em combustíveis líquidos, o diesel de coprocessamento, biodiesel, etanol e biometano. O biometano, podemos dizer, é o par do gás natural. Importante dizer também que o gás natural fóssil tem um papel importante, para descarbonizar a indústria, porque permite que se possa trocar um combustível mais poluente pelo gás natural”, comenta ele.

O CEO da Amazônica Energy, Marcelo Araújo, diz que não há perspectiva de colocação de grandes sistemas eólicos ou solares na região amazônica, “por questão de baixa densidade para esses projetos”, e, por isso, defende o gás natural como alternativa.

“Ele é a tendência mais forte de transição para um combustível com menos emissões. A gente realmente se foca nessa direção, por sabermos que toda a infraestrutura para suprimento de gás natural é bem mapeada, bem conhecida tecnologicamente, logisticamente, como uma transição segura, em função de eficiência e de redução de partículas na atmosfera”, afirma.

 

Fonte: A Crítica 

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