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“Foi preciso cinco mandatos para eu ser candidata a governadora. Talvez se eu fosse um homem, antes disso eu já teria chegado”, diz a ex-prefeita de Boa Vista e pré-candidata em Roraima Teresa Surita (MDB). Ela é uma das três únicas mulheres em todos os 26 estados e no Distrito Federal em condição de favoritismo nas corridas eleitorais para governador. Ao lado dela, estão a deputada Marília Arraes (Solidariedade-PE) e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT).
As mulheres são maioria do eleitorado (52,6%) e pouco menos da metade das filiações a partidos(46%), segundo dados deste ano do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas só 16 das 32 siglas terão candidatas a governadora.
O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro — que tenta atrair o voto feminino para sua campanha de reeleição —, não lançou nenhuma mulher para o comando de Executivos estaduais, tampouco outras siglas da base bolsonarista, como PP, Republicanos e PTB. O PSB, partido que ocupa a vice na chapa do ex-presidente Lula (PT) na eleição presidencial, também não. Completam a lista PSD, Cidadania, Rede, Novo, PV, DC, Avante, Patriota, PRTB e Agir.
Pré-candidatas, líderes políticas, ativistas e pesquisadoras ouvidas pelo GLOBO atribuem o cenário à falta de representação feminina na mesa de decisões dos partidos. Só seis das 32 siglas são comandadas por mulheres: PT, Podemos, Rede, PMB, PCdoB e PRTB.
A maioria das legendas diz haver dificuldade de articular chapas e de encontrar mulheres que queiram concorrer. Dizem que elas preferem os pleitos proporcionais, para deputada estadual ou federal.
Os partidos também afirmam ter pré-candidatas a vice-governadora e senadora. O Cidadania e o PV disseram que, apesar de não terem filiadas na disputa, integram federações com candidatas a governadora. Procurados, PL, Rede, Avante, PTB e Republicanos não se manifestaram.
Representação feminina avança pouco em quatro anos
Entre os cerca de 200 nomes na corrida aos Executivos estaduais, há 34 pré-candidatas até o momento, segundo levantamento preliminar feito pelo GLOBO. Alguns partidos ainda não fecharam se terão candidatos ou quem será o escolhido. A data limite para o registro de candidaturas é 15 de agosto.
O número de pré-candidatas neste ano não mostrou grande avanço frente ao de 2018, quando 30 concorreram a governadora. Desde aquele ano está em vigor a norma de que partidos devem reservar ao menos 30% do fundo eleitoral para mulheres. Mesmo assim, a falta de recursos ainda é citada como a principal dificuldade delas — e campanhas majoritárias costumam ser mais caras que as proporcionais.
— Essa escolha de quem concorre ao governo é partidária. E nós, mulheres, temos entrada reduzida. Para os partidos, mulher serve para cumprir os 30% (de candidatura feminina obrigatória) ou para ser vice — diz Larissa Alfino, presidente do Instituto Vamos Juntas, grupo que trabalha para ampliar o acesso feminino na política.
A pré-candidata do PDT ao governo do Amazonas, Carol Braz, é uma das que está esperando o seu partido informar o valor que ela terá para decidir se mantém seu nome na disputa.
— Sem o recurso do partido, é impossível manter uma candidatura. Precisamos de apoio para sermos competitivas — disse Braz.
Nas últimas duas eleições, só uma governadora foi eleita em cada pleito: Suely Campos (PP) em 2014, em Roraima, e Fátima Bezerra (PT) em 2018, no Rio Grande do Norte. O máximo foi em 2010, quando três venceram a disputa. O Brasil teve a primeira governadora eleita em 1994: Roseana Sarney (PFL) no Maranhão. Mais de 20 anos depois, oito venceram as disputas estaduais.
No Ceará, a atual governadora, Izolda Cela, foi preterida pelo seu partido, o PDT, que escolheu um homem para representar a sigla. A decisão se baseou em conflitos políticos — devido à proximidade dela com o PT —, mas é a primeira vez desde 2002 que um governador não tenta a reeleição no estado.
O Ceará é um dos 20 estados, além do Distrito Federal, que nunca elegeu uma governadora. Izolda era vice e assumiu em abril. Ela anunciou sua desfiliação do PDT na semana passada. Procurada pelo GLOBO, não quis se manifestar.
A socióloga Jacqueline Quaresemin, professora de opinião pública na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, aponta a dificuldade das mulheres emplacarem seus nomes nas negociações estaduais entre os partidos.
— A questão do poder é mais evidente nas majoritárias. Como são cargos executivos, depende de uma grande articulação política. Há toda uma negociação do poder regional.
Foto: Arte O Globo
Fonte: O Globo
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