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A ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza começa a ser julgada nesta segunda-feira, acusada de ser mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo. A pastora, seus filhos Simone, André e Marzy e a neta Rayane — todos réus neste julgamento — choraram ao ver os parentes no tribunal. A mãe da ex-deputada, Carmozina Mota, que está no tribunal, se aproximou de onde estão os acusados. Ela chegou companhada de outra filha, Laudiceia, uma das irmãs de Flordelis, e da sobrinha, Flávia. “Nada a declarar”, disse Flávia aos jornalistas, enquanto a Carmozina ficou calada.
A pastora chegou ao fórum de Niterói pouco depois das 8h desta segunda-feira, em veículo do Serviço de Operações Especiais (SOE) da Secretaria de Administração Penitenciária, responsável pelo transporte de presos. Não havia outros réus no veículo com Flordelis. Ela veste o uniforme do sistema penitenciário do Rio, camiseta de malha branca e calça jeans.
Veja fotos do julgamento da ex-deputada Flordelis dos Santos
A juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce afirmou que os réus afirmaram que não querem aparecer. Por esse motivo, os advogados de defesa fizeram uma “barreira”. O advogado Ângelo Máximo se manifestou, afirmando causar espanto a informação, uma vez que os próprios advogados de defesa tinham pedido a transmissão ao vivo do julgamento. Máximo representa Cláudia Maria Rodrigues de Souza, irmã de Anderson. Ela é assistente de acusação.
Advogados de Flordelis ficam em volta da ex-deputada no início do julgamento — Foto: Carolina Heringer / Agência O Globo
Os promotores que fazem o júri são Carlos Gustavo Andrade, Mariáh Soares da Paixão e Décio Viégas de Oliveira.
A juíza leu a denúncia contra Flordelis. Além do homicídio, ela responde ainda por tentativas de homicídio (por ter envenenado a vítima), associação criminosa armada e uso de documento falso (por ter elaborado uma carta para atrapalhar as investigações). Seus três filhos — André, Simone, Marzy — e uma neta, Rayane, respondem por participação no homicídio e os três primeiros, também pelas tentativas de homicídio.
O namorado de Flordelis, o produtor musical Allan Soares, está no tribunal acompanhando o julgamento. Por volta das 13h, ele estava no fórum de Niterói e não quis falar com a imprensa.
O namorado de Flordelis, o produtor musical Allan Soares (à esquerda), no tribunal para acompanhar o julgamento da pastora — Foto: Carolina Heringer/Agência O Globo
‘Prova robusta’
Ângelo Máximo afirmou, quando chegou ao julgamento, que Flordelis deve ser condenada porque as provas no processo são robustas.
— Flordelis será condenada porque a prova no processo é robusta de que ela mandou matar o pastor Anderson do Carmo. A prova no processo leva a isso. Não há uma prova que a defesa possa apresentar produzida no crivo do contraditório judicial que mostre que Flordelis é inocente. Flordelis foi ouvida em cinco oportunidades. No dia 16 de junho, 24 de junho de 2019. Foi ouvida no dia 5 de fevereiro, lá em Brasília, como testemunha do Flávio (filho de Flordelis que foi condenado). Eu estava lá. Foi ouvida no dia 21 de maio de 2020, pela última vez, na delegacia. E foi interrogada em 18 dezembro de 2020. Em nenhuma das oportunidades ela narrou aquilo tudo que ela narrou no vídeo que foi publicado ontem pelo jornal O GLOBO. E a defesa nega que tenha vazado o vídeo. Mas só a defesa tinha o vídeo.
Ângelo Máximo afirmou que a defesa da pastora quer se valer de um princípio usado em outro caso de repercussão, em Mato Grosso, da Ana Cláudia Flor:
— Um dia antes do júri, ela concedeu uma entrevista, que conseguiu dividir a opinião pública naquela comarca de Mato Grosso. Ela quer usar da mesma tese de defesa. Só que aqui a opinião pública sabe da verdade. Sabe de tudo o que ocorreu. Ela teve cinco oportunidades para falar e não falou. Isso gera estranheza. Como um advogado entra com celular na cadeia para gravar vídeo. É coisa que o assistente de acusação cobra do sistema penitenciário, de quem eu sou advogado do sindicato, que esclareça. Como esse vídeo foi feito? Através de celular? De câmera? — indagou.
O júri popular deve se estender por três dias. A sessão de julgamento teve início com o sorteio dos sete jurados para integrar o chamado Conselho de Sentença. São eles que decidem se os réus são culpados ou inocentes. Os jurados, ao serem escolhidos, passam a ficar incomunicáveis, não podendo estabelecer qualquer contato entre eles ou com terceiros até o término do julgamento.
Eles são obrigados a desligar seus celulares e entregá-los ao oficial de Justiça. Os jurados são pessoas comuns, moradores de Niterói, que não necessariamente têm formação jurídica. No fim do dia, quando a sessão for suspensa, eles ficarão alocados em um hotel previamente escolhido pela Justiça.
Relembre imagens do caso Flordelis
Após a escolha dos jurados, começam a ser ouvidas as 30 testemunhas. Primeiro, as de acusação. Em seguida, as de defesa. No fim, é feito o interrogatório dos réus. Depois terá palavra a acusação – promotor de Justiça seguido do assistente de acusação. Eles poderão falar por duas horas e meia, dividindo esse tempo, pedindo a absolvição ou a condenação dos réus, a depender das provas apresentadas no julgamento. Depois, terão direito a falar também por duas horas e meia os defensores dos acusados. Eles terão que dividir o tempo total disponível. Os mesmos advogados defendem Flordelis, Rayane, André e Marzy. Apenas Simone é representada por outra advogada, Daniela Grégio.
Os réus permaneceram com o uniforme do presídio, apesar dos advogados terem pedido roupas para serem trocadas. Eles estão sem algema, conforme requerimento da defesa.
Depois da explanação da defesa, MP e assistente de acusação terão duas horas de réplica e em seguida, os advogados terão mais duas horas de tréplica. Os jurados votarão quesitos, formulados pela juíza, sobre a existência ou não do crime, autoria ou participação dos réus, se devem ser absolvidos, se existem causas de aumento de pena, entre outros. A votação acontece na chamada sala secreta. Após a votação, a magistrada elabora a sentença e estipula a pena, de acordo com os quesitos votados pelos jurados.
Rodrigo Faucz, um dos advogados de defesa da ex-parlamentar, pediu para a delegada Barbara Lomba, que presidiu a primeira investigação do caso, não ser ouvida ou ser ouvida como informante. Faucz afirmou que a delegada apenas confirmaria a tese do Ministério Público.
— Não há a menor possibilidade de que a doutora se autocriticar, apontar erros na investigação. Ganha maior relevo quando temos no Brasil, um dos poucos países que permitem, que elementos colhidos na fase do inquérito sejam utilizados na fase processual.
O pedido foi comentado pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce:
— Me causa espanto. Não sei se é um posicionamento bem recente dos senhores, porque os senhores arrolaram a dra. Barbara.
No que foi respondido por Faucz:
— Nós a tínhamos arrolado como informante, não como testemunha.
O Ministério Público foi contra o pedido da defesa.
— O MP recebe com espanto o requerimento da defesa. É uma servidora pública, tem fé pública. Até que se prove o contrário, não tem interesse num lado e nem no outro. A defesa traz tese doutrinária, minoritária, que não é uma posição que atende a Constituição, na visão do MP. Vamos deixar a cargo dos jurados, para decidir se uma servidora, que tem fé-pública, tem algum interesse — disse a promotora Mariáh Soares da Paixão.
A juíza indeferiu o pedido.
Testemunhas são ouvidas
A delegada Bárbara Lomba, que foi a primeira a atuar no caso, começou a ser ouvida por volta das 11h30. Questionada pelo Ministério Público, ela detalhou o início das investigações e as relações dentro da família.
Bárbara afirmou que o relacionamento entre Anderson e Flordelis era aberto e não se tratava de um casamento “tradicional”. Ela acrescentou que em relação a alguns integrantes da família, não havia relação de pai e mãe com Anderson e Flordelis.
— (O relacionamento) Era aberto. As coisas eram abertas lá dentro. Havia um casamento e eles, como pastores, se comportavam como num casamento tradicional. Não estou dizendo isso para julgar. Mas é que isso foi importante para a investigação. A gente desmonta algo que era construído de uma outra forma. Era passado como se fosse de outra forma. Não havia um amor de pai e mãe. Pessoas já tinham tido relações com Flordelis, com Anderson.
A delegada relatou ainda que havia intrigas e discordâncias na casa e Anderson tinha uma grande preocupação com a imagem da família, por isso o pastor era extremamente rigoroso.
Bárbara fez, ainda, uma análise sobre a relação de Anderson e Flordelis:
— Um precisava do outro de alguma forma. Falando muito vulgarmente, ele empreendedor e ela, o símbolo.
Ao narrar parte da dinâmica do crime, Bárbara relembrou que o filho biológico de Flordelis, Flávio dos Santos Rodrigues, já condenado por ter sido o responsável por atirar em Anderson, afirmou que estava com raiva por ter ouvido de Simone que o pastor teria passado a mão nela e abusado de uma de suas filhas. A delegada ressaltou que durante as investigações não foi constatado que houve qualquer tipo de abuso cometido por Anderson.
— Se houve algum tipo de relação sexual, a única informação concreta é de que elas teriam sido consensuais.
*O Globo
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