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Amazonas é o último lugar em segurança no trânsito

Em agosto, **pneu de picape estourou** e o **veículo atravessou a pista**, atingindo fatalmente **motociclista**. (Foto: Jeiza Russo/A CRÍTICA)

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Pesquisa indica falhas graves; Detran e Immu afirmam que dados estão desatualizados

Amazonas na última posição entre os estados brasileiros no ranking de segurança viária.

O estudo Indicadores Rodoviários Integrados de Segurança (Iris), divulgado em setembro deste ano, avaliou os 26 estados e o Distrito Federal em sete pilares do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans).

Os piores desempenhos do Amazonas estão nos eixos de Educação para o Trânsito e Normatização e Fiscalização, nos quais o estado obteve nota zero.

Questionado pela reportagem de A CRÍTICA, o Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM) contestou os resultados. Em nota, o órgão afirmou que os dados utilizados pela pesquisa são de 2022 e não refletem a realidade atual.

O Detran informou que, apenas entre 2023 e 2024, as infrações registradas no estado saltaram de 71.139 para 95.069, um aumento de quase 34%. Em 2025, até setembro, já foram 94.001 autuações, com expectativa de novo crescimento.

O órgão atribui a melhora ao fortalecimento da fiscalização estadual e destacou que a ferramenta do Pnatrans depende também de atualizações feitas por institutos e órgãos municipais.

DESAFIO ESTRUTURAL

Apesar da contestação, a pesquisa mostra que o Amazonas tem fragilidades históricas em educação para o trânsito, como baixa proporção de condutores habilitados, pouca fiscalização de alcoolemia e ausência de registros de infrações por uso de celular ao volante.

Para o engenheiro de trânsito e especialista em mobilidade urbana Manoel Paiva, a situação exige uma mudança profunda de abordagem:

“Precisamos implementar programas de treinamento de condutores, ciclistas e categorias como mototaxistas, motoboys e motoristas de carga. Campanhas isoladas não bastam. É necessário motivar todos os envolvidos na mobilidade urbana a mudar a chave para outro patamar, com foco no respeito às leis e à vida.”

Manoel Paiva, engenheiro de trânsito e especialista em mobilidade urbana

Manoel Paiva, engenheiro de trânsito e especialista em mobilidade urbana

Paiva ressalta que a educação para o trânsito deve ir além das salas de aula e acrescenta que é preciso levar a conscientização para as ruas, para as empresas e para os bairros.

“O trânsito seguro só acontece quando toda a sociedade entende que a responsabilidade é coletiva — motoristas, pedestres, ciclistas e motociclistas.”

FISCALIZAÇÃO QUASE INEXISTENTE NAS RODOVIAS

Outro ponto crítico é o pilar de Normatização e Fiscalização. O Amazonas também recebeu nota zero neste quesito.

De acordo com Paiva, o estado não possui nenhum radar em rodovias estaduais.

“Nenhuma rodovia estadual possui controle de excesso de velocidade, porque não há aparelhos de medição, fixos ou móveis. Apenas a Polícia Rodoviária Federal fiscaliza em trechos federais como a BR-174 e a BR-319”, afirmou.

O engenheiro alerta que a ausência de equipamentos favorece comportamentos de risco:

“Sem fiscalização eletrônica, a sensação de impunidade cresce. Isso se traduz em excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas e desrespeito a regras básicas, colocando em risco condutores e pedestres.”

VÍTIMAS FATAIS E AS VIAS MAIS PERIGOSAS

De acordo com dados oficiais do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (Immu), 181 pessoas morreram em acidentes de trânsito em Manaus entre janeiro e setembro de 2025, o que representa uma redução de 23,3% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram 236 vítimas fatais.

Os números mostram que motociclistas e pedestres seguem como os mais vulneráveis, somando 84 e 63 mortes, respectivamente — juntos, equivalem a 81% de todas as vítimas no período.

As zonas Norte, Leste e Oeste continuam concentrando a maior parte dos casos, com 65% dos óbitos registrados na capital.

Resposta da Prefeitura de Manaus

O Immu afirma que os dados refletem o avanço das ações do Plano Municipal de Segurança Viária, lançado pela Prefeitura de Manaus com a meta de reduzir em 30% as mortes no trânsito até 2025.

Segundo o presidente do Immu, Arnaldo Flores, o plano combina tecnologia, educação e fiscalização.

“A segurança no trânsito não é responsabilidade apenas de quem dirige, mas de toda a cidade. Com esse plano, unimos tecnologia, educação e fiscalização de forma estratégica para salvar vidas.”

Entre janeiro e julho deste ano, Manaus implantou 382 faixas de pedestres, 371 novas placas, 262 semáforos modernizados e mais de 29 mil m² de sinalização horizontal.

A fiscalização eletrônica também foi expandida: os radares registraram 156 mil infrações, o que representa apenas 0,5% da frota monitorada, segundo o Immu, “indicando que a maioria já respeita as regras”.

No campo educativo, 92 mil pessoas foram alcançadas com campanhas em escolas, ruas e comunidades.

Contradições e Caminhos

Os dados do Iris apontam para um estado no limite da insegurança viária, enquanto o Detran e a Prefeitura de Manaus apresentam um cenário mais positivo, com números atualizados de fiscalização e redução de vítimas fatais.

Para Paiva, as divergências revelam um problema maior: a falta de integração entre bases de dados.

“Enquanto não tivermos informações claras, atualizadas e acessíveis, será difícil planejar políticas de trânsito eficazes. O Amazonas precisa de transparência e de integração entre órgãos estaduais e municipais”, declara Paiva.

O especialista em trânsito defende que as soluções passam por investimentos em tecnologia, campanhas permanentes e políticas de Estado:

“O trânsito em Manaus e no Amazonas precisa ser tratado como política de Estado, e não apenas de governo. Só assim vamos conseguir continuidade nas ações, com foco em salvar vidas e reduzir a violência no trânsito”, ressalta.

 

Fonte: A Crítica 

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