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Após 25 anos, escola ecológica pode fechar

Escola Tera Kuno beneficia, de forma direta, 40 famílias da região, sendo 10 do assentamento, dentro de uma APA (Foto: Divulgação)

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Situada no ramal do Brasileirinho, zona rural de Manaus, Centro de Treinamento Agroflorestal produz alimentos orgânicos

Com 25 anos de atuação e mais de 3 mil pessoas treinadas, o Centro de Treinamento Agroflorestal Tera Kuno enfrenta risco de descontinuidade das atividades por disputa na direção. Há duas semanas, o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra) realizou uma votação com alguns assentados que elegeu a instituição Filhos e Amigos da Amazônia Sem Fronteiras para comandar os 25 hectares da escola e 38 áreas de assentamentos localizadas no Ramal do Brasileirinho, zona rural de Manaus.

O Tera Kuno beneficia de forma direta 40 famílias da região, sendo 10 famílias do assentamento, que é a Área de Proteção Ambiental (APA) destinada pelo Incra aos produtores rurais. Com as produções feitas no CTA e no assentamento, os produtos orgânicos servem para a subsistência das famílias e a venda na feira da capital amazonense.

Entre as atividades disponibilizadas pelo CTA, estão a organização das vendas de produtos em feiras orgânicas da cidade; venda de cestas pelo perfil @cesta.ajuri; Coffee Break sustentável; ⁠vivência agricultura participativa e cursos como sala verde do Ministério de Meio Ambiente e formação técnica dos agricultores.

O atual vice-presidente da escola agroecológica, Emerson Silva, afirmou que, ao chegar ao local, encontrou as atividades em processo de abandono. Desde então, a equipe tem trabalhado para retomar e dar continuidade aos projetos. Ele defende que a área permaneça sob a gestão da instituição Tera Kuno, para manter o foco na produção orgânica.

“Convencional ou não, a nossa principal briga é respeitar as áreas que eles chamam de reserva. Mesmo do sítio que nós temos, pelo menos 80% da área tem que ser preservada. Essa é a nossa briga. Sendo a agricultura convencional ou não, é necessário que a área seja produtiva. Infelizmente tem sítios abandonados e outras já loteiam e colocam as terras à venda”, disse.

Emerson é técnico agrícola e afirmou que há muitas famílias com interesse na abertura das terras para algo urbano, mas ele explicou que isso prejudica a proteção das florestas que estão em APA.

“Quando você entra no ramal, da ponte para cá, você vê um monte de casinha, porque já lotearam as terras do INCRA. E é isso que eles estão visando. O desenvolvimento que eles falam é isso: jogar máquina pesada aqui e isso não pode porque tudo é área de proteção ambiental. O nosso objetivo é que os sítios sejam utilizados para agricultura familiar e proteção da natureza. Aqui é um assentamento e nosso trabalho aqui é feito para utilização pública, é uma escola, para que os agricultores possam aprender e aplicar em suas terras”, ressaltou.

O técnico informou que, na primeira reunião do Incra sobre a instituição que comanda a escola, ficou definido Filhos e Amigos da Amazônia Sem Fronteiras por ter uma grande parte de donos de terras com interesse em atividades de extração.

“Aqui como a gente trabalha com proteção ambiental, boa parte dos agricultores têm essa dificuldade de ver essa área como uma área de proteção ambiental. E eles veem a gente como um empecilho para atrapalhar o desenvolvimento deles, que querem trabalhar com extração de madeira, querem tirar lenha e outras atividades nesse sentido”, afirmou.

 SISTEMA AGROFLORESTAL

 Emerson Silva disse que um dos diferenciais do Tera Kuno é a agricultura orgânica, que são criados Sistemas Agroflorestais (SAF), com integração das árvores, de plantas agrícolas, frutíferas de forma “harmônica” entre as espécies. Ele já atua dessa forma no local há sete anos, junto de sua esposa.

“Eu e a Nora (esposa) continuamos os trabalhos e criando os sistemas agroflorestais, que é produzir alimento em modo de floresta, e eles (os agricultores convencionais) não veem isso como uma coisa boa. Na verdade, essas pessoas que estão fazendo confusão não têm uma produção direta. Já existia essa briga com quem trabalhava com a agricultura orgânica, pois eles não podem utilizar máquinas nos sítios deles e eles trabalham com autorização dos que trabalham com orgânico”.

Emerson Silva defendeu que a escola Tera Kuno continue sob sua administração. O técnico agrícola destacou que a escola tem diversos parceiros e já é conhecida na comunidade.

 Inpa aponta mudança na concessão da área

 O superintendente do Incra, Denis Silva, informou à reportagem que o CTA operava anteriormente por meio de uma concessão ao Museu da Amazônia (Musa), encerrada a pedido do próprio órgão. Com o fim da parceria, foi realizada uma votação entre os assentados da APA para escolher a nova entidade gestora. A instituição Filhos e Amigos da Amazônia Sem Fronteiras foi a escolhida, em disputa com a Tera Kuno.

“Houve uma desistência do Musa, que tinha concessão e não quis renovar. O Tera Kuno já estava funcionando em parceria com o Musa, mas agora o lote voltou para o INCRA. E aí nós temos que fazer a destinação dele novamente. Como nós não conseguimos nenhuma instituição pública que solicitasse a área, a gente tem dois institutos disputando, o Tera Kuno e outro instituto que deu entrada aqui no INCRA. Nós fizemos uma votação lá, a maioria ficou favorável a esta instituição nova”, disse.

Após reunião com os agricultores e comunitários beneficiados pelas atividades do Tera Kuno, o superintendente disse que, se houver alguma instituição pública interessada na concessão do local, o Incra abrirá um edital para a disputa.

“O que eles estão comentando aqui é que tem algumas instituições públicas que vão dar entrada aqui no Incra. Nós vamos aguardar se vai realmente dar entrada para balizarmos como é que vai construir. Mas lembrando que o Incra não toma decisão sozinho, a decisão é técnica, mas ela é sempre também de consulta com a comunidade”, ressaltou.

Na reunião dos assentados com o superintendente do Incra, realizada na quarta-feira da semana passada, a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Sônia Alfaia, disse que a instituição já tem uma parceria de pesquisas na APA e que há um interesse na continuidade.

“Todo mundo que trabalha com agroecologia está apoiando o Tera Kuno. Recentemente nós estamos aprovando o projeto pela Finep e vamos precisar daquela área para trabalhar. A gente precisa fazer capacitação dos produtores e vamos trabalhar ali naquele assentamento, porque a gente já vem trabalhando com essa comunidade, mas a gente quer ampliar o nosso trabalho lá. E o projeto foi feito exatamente para que seja uma zona tampão para evitar que seja invadido a Reserva Ducke, como antes vinha acontecendo”.

O agricultor José Rodrigues disse que espera que instituições como o Inpa, a Ufam e outras instituições de pesquisa demonstrem interesse na concessão, para que eles continuem se beneficiando das atividades. Segundo ele, a votação feita na comunidade é desleal, pois há pessoas que têm registro de assentado, mas apenas visitam o local e não produzem.

“A gente quer mesmo é que os moradores de lá, que trabalham lá e vivem realmente ali, possam votar, não só os assentados. Essa é a coisa que eu acho que, no meu ponto de vista, deveria ter sido levada em conta. Porque a pessoa reside, trabalha, participa de todo o movimento, comercializa os produtos aqui na feira de Manaus, que nós somos produtores orgânicos, produz e vende, ocupando uma área e na hora não pode votar. Aí o que é assentado que vai passar o final de semana, que não produz, vota”, afirmou.

“Nós queremos continuar sendo uma referência nesse assunto em Manaus. O caso principal é regularizar essa questão do INCRA. Que eles passem essa instituição para a nossa associação Tera Kuno, para a gente continuar administrando isso aqui. Nós não trabalhamos só, temos diversos parceiros, como o Inpa, a UEA, a Ufam e o Ifam. Isso aqui não pode ficar abandonado, não pode acabar”, disse.

 AMAZÔNIA DE PÉ

 Silva ressaltou, ainda, que a instituição tem um papel muito importante na luta pela Amazônia de Pé, fortalecendo a agricultura familiar, a preservação da floresta e atraindo mais pesquisadores ao local.

“Se isso aqui virar uma área urbana ou área de agricultura convencional, todos esses igarapés, como o do Puraquequara, por exemplo, vão ficar poluídos. É uma das brigas que a gente tem, que é para manter as nascentes daqui vivas. Tem diversidade de floresta e nascentes, a partir do momento que derrubam a floresta, mancha os igarapés”.

A reportagem não conseguiu contato com representantes da Associação Filhos e Amigos da Amazônia Sem Fronteiras.

 Iniciativa se torna referência

 Durante visita ao Centro de Treinamento de Agroecologia (CTA), em Manaus, o representante da Secretaria de Produção Rural (Sepror), Eduardo Rizzo, comentou sobre a importância da integração entre iniciativas locais e políticas públicas voltadas à agroecologia no Amazonas.

“A gente veio conhecer essa área justamente para entender como o conhecimento gerado aqui pode contribuir com o plano estadual de agroecologia. O CTA tem feito capacitações importantes e pode se tornar um ponto de referência para ações do Estado na região de Manaus”, afirmou.

Rizzo explicou que há um Conselho que trata sobre agroecologia dentro da Sepror, e é composto por 22 instituições. Ele informou que o CTA demonstrou interesse em compor o Conselho e, com o crescimento perceptível da agroecologia no Amazonas, é necessário ver como integrar as tarefas.

“A agroecologia tem se mostrado a agricultura mais adaptada à nossa realidade, especialmente por imitar os ciclos da floresta e reduzir a necessidade de insumos externos. Isso facilita a vida do agricultor e fortalece práticas sustentáveis na região”, disse.

 Inpa aponta mudança na concessão da área

O superintendente do Incra, Denis Silva, informou à reportagem que o CTA operava anteriormente por meio de uma concessão ao Museu da Amazônia (Musa), encerrada a pedido do próprio órgão. Com o fim da parceria, foi realizada uma votação entre os assentados da APA para escolher a nova entidade gestora. A instituição Filhos e Amigos da Amazônia Sem Fronteiras foi a escolhida, em disputa com a Tera Kuno.

“Houve uma desistência do Musa, que tinha concessão e não quis renovar. O Tera Kuno já estava funcionando em parceria com o Musa, mas agora o lote voltou para o INCRA. E aí nós temos que fazer a destinação dele novamente. Como nós não conseguimos nenhuma instituição pública que solicitasse a área, a gente tem dois institutos disputando, o Tera Kuno e outro instituto que deu entrada aqui no INCRA. Nós fizemos uma votação lá, a maioria ficou favorável a esta instituição nova”, disse.

Após reunião com os agricultores e comunitários beneficiados pelas atividades do Tera Kuno, o superintendente disse que, se houver alguma instituição pública interessada na concessão do local, o Incra abrirá um edital para a disputa.

“O que eles estão comentando aqui é que tem algumas instituições públicas que vão dar entrada aqui no Incra. Nós vamos aguardar se vai realmente dar entrada para balizarmos como é que vai construir. Mas lembrando que o Incra não toma decisão sozinho, a decisão é técnica, mas ela é sempre também de consulta com a comunidade”, ressaltou.

Na reunião dos assentados com o superintendente do Incra, realizada na quarta-feira da semana passada, a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Sônia Alfaia, disse que a instituição já tem uma parceria de pesquisas na APA e que há um interesse na continuidade.

“Todo mundo que trabalha com agroecologia está apoiando o Tera Kuno. Recentemente nós estamos aprovando o projeto pela Finep e vamos precisar daquela área para trabalhar. A gente precisa fazer capacitação dos produtores e vamos trabalhar ali naquele assentamento, porque a gente já vem trabalhando com essa comunidade, mas a gente quer ampliar o nosso trabalho lá. E o projeto foi feito exatamente para que seja uma zona tampão para evitar que seja invadido a Reserva Ducke, como antes vinha acontecendo”.

O agricultor José Rodrigues disse que espera que instituições como o Inpa, a Ufam e outras instituições de pesquisa demonstrem interesse na concessão, para que eles continuem se beneficiando das atividades. Segundo ele, a votação feita na comunidade é desleal, pois há pessoas que têm registro de assentado, mas apenas visitam o local e não produzem.

“A gente quer mesmo é que os moradores de lá, que trabalham lá e vivem realmente ali, possam votar, não só os assentados. Essa é a coisa que eu acho que, no meu ponto de vista, deveria ter sido levada em conta. Porque a pessoa reside, trabalha, participa de todo o movimento, comercializa os produtos aqui na feira de Manaus, que nós somos produtores orgânicos, produz e vende, ocupando uma área e na hora não pode votar. Aí o que é assentado que vai passar o final de semana, que não produz, vota”, afirmou.

 

 

Fonte: A Crítica 

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