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Capital alcançou 34% de cobertura e mira universalizar acesso ao esgoto tratado até 2033, mas expansão da rede exige superar desafios do relevo, da gravidade e da colaboração com moradores
Nos últimos sete anos, Manaus se destacou como a capital da Amazônia com o maior avanço na cobertura de esgoto. Atualmente, a cidade possui 34% da rede coletora instalada — um aumento significativo em relação aos 19% registrados em 2018. Um crescimento de 15 pontos percentuais no período.
Em Belém, futura sede da COP30 e com cerca de um milhão de habitantes a menos que Manaus, a cobertura atual é de apenas 19%, de acordo com dados do Instituto Água e Saneamento. A situação é ainda mais crítica em Macapá (8%) e Porto Velho (6%). Rio Branco alcança 20%.
Embora Boa Vista (RR) e Palmas (TO) apresentem índices superiores a 90%, são capitais significativamente menores, que fizeram grandes investimentos em saneamento nos últimos anos — um caminho que Manaus também vem trilhando, com aportes crescentes e obras contínuas desde 2018.
Com mais de R$ 3 bilhões em investimentos e apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o programa Trata Bem Manaus, da concessionária Águas de Manaus, tem como meta universalizar a coleta e o tratamento de esgoto até 2033. O plano prevê a instalação de 2,7 milhões de metros de redes coletoras e a construção ou ampliação de cerca de 70 estações de tratamento.
A estratégia será executada em três fases:
- Atingir 60% de cobertura até 2027;
- Avançar para 75% nos anos seguintes;
- Entre 2030 e 2033, chegar a 90% da área urbana atendida.
O avanço é resultado de um planejamento de longo prazo, como destaca Pedro Freitas, diretor-presidente da Águas de Manaus:
“Estamos executando um projeto robusto, com investimentos históricos e foco em eficiência operacional, impacto ambiental positivo e melhoria da saúde pública.”
Quando a gravidade é aliada
Mas, para entender como esse sistema vem sendo implantado em Manaus, é preciso olhar para um dos princípios mais simples — e eficazes — da física: a gravidade.
Diferente da distribuição de água, que depende de sistemas pressurizados com bombas para levar o recurso até as residências, o esgoto se move, principalmente, pela força da gravidade. É com esse princípio físico que se estrutura a maior parte da rede coletora da capital.
As tubulações são instaladas com uma leve inclinação, o que permite que os dejetos escoem naturalmente até atingirem profundidades maiores, que podem chegar a dois ou três metros. Quando esse limite é alcançado, entram em cena as Estações Elevatórias de Esgoto (EEE), responsáveis por bombear o material para cotas mais altas, de onde o esgoto volta a escoar por gravidade até alcançar as Estações de Tratamento.
Esse sistema exige planejamento minucioso, já que o relevo da cidade, a profundidade da tubulação e o tipo de solo são fatores determinantes para o funcionamento contínuo e seguro da rede.
Vantagens e limitações
Apesar dos avanços, os desafios para a expansão do saneamento em Manaus ainda são significativos, especialmente em uma cidade com relevo complexo e ocupação urbana muitas vezes desordenada.
A engenheira sanitarista Caroline Azevedo, especialista em saneamento básico, explica que o modelo adotado em Manaus, majoritariamente baseado no sistema de esgotamento por gravidade, tem vantagens claras, mas também enfrenta limitações.
“O sistema traz benefícios imensos tanto para a saúde pública quanto para o meio ambiente. Reduz a ocorrência de doenças de veiculação hídrica e diminui a contaminação de rios e igarapés, que são fundamentais para a população da região”, afirma Caroline.
“Por outro lado, o maior desafio é o ordenamento urbano. A ocupação irregular, muitas vezes em áreas de preservação, dificulta bastante a implantação da rede.”
Segundo a especialista com experiência em monitoramento de ETE, elaboração de projetos ambientais e consultoria técnica, o relevo, que poderia ser um entrave, é mitigado pela localização estratégica das Estações de Tratamento de Efluentes nas áreas mais baixas da cidade, próximas aos rios.
“Nesse sentido, o relevo acaba sendo menos problemático. O maior gargalo realmente é social e urbano”, pontua.
A engenheira destaca ainda que, para ampliar a rede coletora nas áreas mais populosas e de ocupação irregular, é necessário ir além das obras de infraestrutura.
“Há uma série de etapas que envolvem desde a regularização das construções até a realização de estudos como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), além da captação de recursos.
E, claro, a conscientização da população sobre a importância do sistema é indispensável”, explica.
Uma vez implantada, a operação da rede de esgoto exige cuidados contínuos. Caroline ressalta que é fundamental investir em manutenções preventivas e corretivas, além de capacitar equipes técnicas e realizar monitoramento constante da qualidade do efluente.
“A educação sanitária da população é outro pilar essencial. Sem o uso adequado, a rede pode sofrer danos, entupimentos e até colapsar.
É um sistema que depende tanto da infraestrutura quanto da colaboração de quem utiliza”, conclui.
Sistema de esgoto x sistema de água potável
A diferença entre o sistema de esgoto e o de água potável é significativa. A água potável requer grandes estações de tratamento e tubulações de grande diâmetro, enquanto o esgoto utiliza redes menores e diversas estações ao longo da cidade.
“O esgoto tem um volume menor, por isso usamos redes mais finas e várias estações menores espalhadas por Manaus”, afirma.
Manaus, por sua vez, apresenta desafios únicos devido à sua urbanização. As ruas estreitas e sinuosas e a presença de igarapés dificultam a instalação de redes grandes. Em vez de grandes estações centralizadas, a concessionária criou um sistema de microbacias, com quatro estações maiores e 84 pequenas espalhadas por toda a cidade.
Além disso, o uso consciente da rede de esgoto é fundamental.
“A rede foi projetada para receber apenas esgoto doméstico, como a água do vaso sanitário, chuveiro e pia.Não se deve jogar materiais sólidos, como restos de comida, papel higiênico em excesso, absorventes e panos, pois isso pode entupir a rede”, alerta o diretor-presidente.
Um dos maiores vilões do sistema, de acordo com ele, é o óleo de cozinha.
“Quando despejado na pia, o óleo endurece dentro da tubulação e vira uma pedra, o que pode causar entupimentos sérios e até vazamentos de esgoto em vias públicas.”
Por fim, Pedro enfatizou que o primeiro passo é conectar a residência à rede, mas o uso consciente é igualmente essencial para o bom funcionamento do sistema de saneamento.
“Conectar-se é só o primeiro passo. Usar com consciência é fundamental para evitar problemas e garantir a eficiência do sistema”, conclui.
Fonte: A Crítica
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